sexta-feira, 24 de abril de 2015

O Cavalo de Ferro

Nasci, cresci, tenho vivido e provavelmente vou morrer numa terra de ferroviários.
Podia ser pior.

Também o Pinhal Novo nasceu e tem crescido à volta daquelas linhas de ferro que dividem a vila ao meio.
Eu vivo no lado norte, onde estão todos os espaços nobres, como os jardins, os bancos, a igreja, o Costa Bar, a Biblioteca... noblesse oblige.
No lado sul ficam os cemitérios.
Acho que deu para perceber o meu ponto de vista.

Como todos os petizes já fiz trinta por uma linha, mas esta foto mostra que também era uma criança bem comportada.
Ainda que com traços andróginos e com calções de trapezista do Circo Chen.

Esta foto (e o comboio que nela aparece) já antes foi publicada no blog "Máquina do Tempo" e motivou até pedidos de informação de entusiastas por aquele tipo de máquinas tchuca tchuca.
Chegaram a identificar a coisa com o nome técnico correcto, mas agora não me apetece ir à procura no arquivo de e-mail, por isso chamemos-lhe "comboio".

As melhores histórias deste vosso amigo, relacionadas com comboios, aconteceram na adolescência.
Não, não é isso que estão a pensar.

A nova estação e as passagens subterrâneas só apareceram neste século.
Antes disso passava-se por cima dos comboios que ficavam por ali.
Mesmo carregados com compras da Cooperativa.

E se não houvesse comboios, havia sempre o aliciante de ficar com um pé entalado quando as agulhas mudavam as linhas.
Uma vez fiquei com ele entalado (o pé!!) e ao longe ouvia-se o comboio a aproximar-se.
Deixei lá o ténis e afastei-me.
Depois voltei para ir buscar o que restava dele.

Brincar aos Comboios nos Tempos da Faculdade

Mas os episódios mais rocambolescos com comboios aconteceram nos tempos da faculdade.
Não, continua a não ser isso que estão a pensar.

Como sempre fui mau de horários, era usual ir a correr para o comboio e só apanhá-lo à justa ou mesmo com ele já em andamento.
Ajudava que houvesse degraus e uma espécie de varão, uma pega metálica, que ajudava a subir.

Uma vez o comboio já ganhava velocidade, mas eu tinha decidido que ia na mesma apanhá-lo.
Voei para os degraus e para o varão e, com a deslocação, fui bater com as costas na parede do comboio - sempre agarrado à pasta - e tal qual um desenho animado, voltei aos degraus, tendo depois entrado como se nada tivesse acontecido, mas com uma dor no braço e nas costas como se fosse o Corcunda de Notre Dame após um AVC.

"Melhor", entre aspas, fez o Nelson.
Numa das vezes que apanhou o comboio já em andamento, reparou que a porta estava trancada.
Ainda bateu, mas ninguém o ouviu.
Resultado: Foi ali pendurado até à estação seguinte.
Cinco minutos ao frio.
Seis e tal da manhã em pleno Inverno.

Não sei o que seria do Pinhal Novo sem comboios.
Há alguns anos que voltei a recorrer a este meio de transporte para chegar ao trabalho, desde que perdi o meu carro num acidente pateta.
Mas como aqui só se fala do "Pretérito Perfeito" isso agora não interessa nada.

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