domingo, 5 de abril de 2020

Quinta Dimensão Vintage

Nos anos 70 a decoração das casas e as capas de discos andavam tu cá, tu lá.
Depois dos anos cinzentos de ditadura, parecia que a ordem era expandir e extravasar exuberantemente, para só usar três das 722 palavras começadas por "ex" que se aplicariam a este caso.
E era, de facto, extraordinário, sem ser bonito e muito menos coerente.
Uma quinta dimensão vintage por onde todos aqueles com mais de 40 anos passaram.

Nesta foto, do final dos anos 70, temos o Pequeno Johnny placidamente sentado, enquanto o Feng Shui, antes de se falar em Feng Shui, se debatia num vórtice canibal em que superfícies lisas, círculos e quadradinhos lutavam pela vida.
A coisa sobreviveu poucos anos, também porque naquela época as novas modas apareciam como cogumelos, e logo o mais oposto possível às suas antecessoras.
Foi assim que sobrevivi entre paredes pintadas com cores espatafúrdias, papéis de parede com padrões escanifobéticos, depois corticite porque era mais quente, a seguir azulejos porque era mais fresco; e sob os meus pés, o piso original da casa, depois alcatifa, a seguir tacos e ainda mosaicos.

Musa em Cena

Não me lembro muito bem desta divisão enquanto sala, porque ali foi quase sempre o meu quarto e, depois, o nosso quarto (meu e do meu irmão), mas lembro-me daquela mesa de mármore, que mais cedo ou mais tarde acabou com uma ponta lascada, daquele cinzeiro azul, que até fica bem naquela mesa e... lembro-me de mim, com o melhor corte de cabelo que tive, muito melhor do que agora, em que cabelo também é passado.

Não me lembro daqueles calções e camisa de ganga, todo em azul, numa afirmação de estética contra-corrente, em que, sem querer, fazia pandã com o isqueiro.
Ainda hoje o azul é uma das cores que mais gosto.
Muito mais que rosa, laranja e castanho todos misturados.

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